segunda-feira, setembro 14, 2009

Chegada

" This is my medicine, please don´t put in X ray"

A gente não tem vergonha quando fala na língua materna mas a cara de pau que durou a vida inteira se esvai em um segundo quando percebe que é um tolo ao tentar se expressar na língua que não domina bem.
E isto é tão simples!! Explicar que usa remédio homeopático, fato que até então ninguém sabia, agora está ali exposto.
Atraves da imaginação penso ouvir uma pergunta:
- E pra que a senhora precisa disso?
E respondo a mim mesma:
- Vai ser presa com este líquido aí.

Como seria Dublin?
Poucas vezes ouvira este nome, geralmente cita-se Londres, Paris, Roma, Madri...
Dublin...Estranha mesmo, até no nome.
Mas Londres oferece maiores dificuldades para nos receber, exigem uma declaração de renda especifica, e outros pré-requisitos de que eu não disponibilizava, eu tinha medo. E nesta época os jornais comentavam sobre brasileiros que não tinham sido aceitos na Espanha ainda que com toda a documentação em ordem.
Assim viajei, com medo de ter que voltar imediatamente ao pisar em solo irlandês. Achei estranho quando me despedi da família e, embora rodeada de gente, me senti só no mundo, porque entrei sozinha no avião? Que opção! Que sensação!
Você pensa que é louco pela decisão que tomou, quer encontrar o porque desta besteira, deixar os queridos pra trás, seu colchão, seu travesseiro, seus pertences íntimos pra partir em busca de aprendizado ou de qualquer evolução.
Ainda bem que o vôo é repleto de atrações, filmes, músicas, revistas, pessoas conversando em outras línguas. Céu que te envolve, nuvens que te cobrem, mágico entardecer.
E que importa a noite mal dormida quando o novo te espera?
Achei a viagem excelente!
Assisti filme em alemão com legenda em inglês e ouvi musicas. Não dormi.

Agora me recordo das boas sensações que tive.
A escala em Amsterdam foi interessante por eu ter sido recepcionada por cães e policiais. Eu viera treinando estar atenta para chegar ao portão de embarque em tempo hábil.
Não queria surpresas no primeiro dia, como me perder no aeroporto de uma cidade sem conhecidos. E como o aeroporto era espaçoso certifiquei me inúmeras vezes, conferi o bilhete com a sinalização local, tudo correto. Mas onde estariam os passageiros para Dublin? Depois de um bom tempo pude perceber que o portão havia sido trocado. Ao invés de correr para o outro portão, subi na esteira rolante, gostei de andar nelas! O ideal é se posicionar sempre à direita.
Excetuando as turbulências e o pequeno atraso de vinte minutos de Amsterdam a Dublin, sobrevoar a tão esperada cidade foi magnânimo! O sol conferia cores brilhantes à paisagem inusitada que em alguns segundos ficou tomada por nuvens. Aconteceram três estações em um breve tempo.
Retida pela imigração eu temia ter que viajar novamente para o Brasil depois do esforço despendido até ali. Bastou apresentar a carta da English in Dublin, o endereço de moradia, o passaporte e citar o valor que trazia para me liberarem depois de 45 minutos. E outros passavam pela mesma situação apesar de que com um mulato a imigração foi ainda mais exigente porque segurou o dinheiro dele enquanto ele aguardou sentado a decisão que iriam tomar, isso me deixou perplexa.
Uma vez em solo irlandês percebi que minha mala extraviara, segunda surpresa.
A terceira surpresa foi comigo mesma, a calma habitava em mim e resolvi a questão de maneira objetiva.
Fui até o balcão especificado na placa, informei o ocorrido e como resposta soube que assim que a mala fosse localizada seria entregue no endereço fornecido por mim. Melhor? Impossível.
Não precisei de táxi para me deslocar até o bairro de Palmerstown, economizei cinquenta euros ao utilizar um ônibus logo de início.

Nenhum comentário: