Hoje, relendo o bilhete que encontrei inesperadamente na mala, percebo que me dei aquela viagem de presente:
"Mamitas,
E já se vai realizando um dos muitos sonhos que povoam nossa alma! Mas esse é dos sonhos graúdos e merece ser vivido em toda sua alegria. Unir o inglês e a música, unir o novo com os seus quarenta e poucos (!!!) anos só me faz ter a certeza do quão jovem é sua força. Estarei na Irlanda com você, em pensamento e com todo meu amor!
Mande fotos e notícias!
Um grande beijo,
Carol!"
Ela própria um dia me acenou com a Irlanda, ela afirmava que seria um local interessante para eu treinar inglês.
Em seguida, ou antes, disso, não me lembro a ordem dos fatos, vi cenas de um filme nesta Ilha. Rochas, praia, vilarejos, construções em pedra, pessoas simples, vestidos longos com aventais de algodão, calças largas, cores cinzas, céu nublado, talvez fosse uma outra época. E filmes de época me atraem, fico imaginando como seria, pareço me interessar, seria feliz naquele momento e naquele lugar?
Isto ficou registrado em minha mente e assim que surgiu a primeira oportunidade, assim que alguém conhecido contou-me que estava por lá acreditei que fosse possível eu chegar a um local longínquo. Lançada a semente em terreno fértil a idéia começou a tomar corpo somada aos sonhos anteriores de viagem pela Europa. Seria minha terceira vez em um continente cobiçado. Começaram os palpites sobre minha temporada.
- Um mês estaria de bom tamanho.
- Não, melhor dois.
-Ah! Isso não é nada quando se sai de casa, o tempo passa muito rápido, um ano voa.
-Seis meses, isso, seis meses.
-Nossa quem vai cuidar do cãozinho?
-Filhos crescidos, contas pagas, vida estável, hora de aprimorar o espírito e o aprendizado.
-Hum que coragem!
E um sentimento de conquista foi desabrochando em mim.
O desconhecido, as diferenças, as dificuldades, há quanto tempo isso estava latente? Seria hora de realizar.
Escolha da escola de línguas, Agência de viagens, passagens, passaporte, valores, conversão de moeda, carta de apresentação para a imigração, seguro saúde, carteira de estudante, moradia, roupas de inverno e verão, malas, sapatos, cosméticos, batom. Ah batom eu compraria no Free Shop, que sonho de consumo, um batom!
Cachecóis eu já tinha em excesso, exagerei quando estive em Buenos Aires, eu parecia ser cinco pessoas ao invés de uma só. Porque compramos tantas coisas que depois ficam sem uso? Pra que lotar os armários quando temos um corpo só? Foi uma das coisas que aprendi quando me deparei com duas malas enormes sem saber quando usaria tudo que elas continham. E o pior, onde acomodá-las naquele minúsculo quarto?
Deu-se início a aventura quando precisei explicar, em inglês, que os frascos de homeopatia se tratavam de remédios e não alguma espécie de explosivos...
" This is my medicine, please don´t put in X ray"
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