Sem bagagem pra carregar, tudo ficou mais fácil, entramos em uma pizzaria popular e experimentei o pior naco desta iguaria que já vira um dia, mas, a partir dali eu me acostumaria a comer mal acreditando que eram especiarias.
Eu viajara pensando que ouviria a língua inglesa regularmente, mas, em breve, esta seria uma das minhas frustrações.
Um outro ônibus nos levaria até Palmerstown em aproximadamente 30 minutos.
Mais cinco minutos de caminhada e chegaríamos à casa do Brian que se localizava em uma esquina.
Assim como na escola, as casas da região, são em parte construídas de madeira tornando audíveis quaisquer ruídos produzidos em seu interior.
Fui apresentada ao Brian, à sua namorada brasileira chamada Suely que chegara de Fortaleza duas horas antes de mim, à Thais, também brasileira e à Kelly, irlandesa.
Escada acima conheci o pequeno quarto acarpetado, parede bege, porta branca, edredom branco com detalhes de flores em azul e amarelo.
Sem previsão alguma de quando isso aconteceria, minhas malas logo chegaram e, para minha surpresa o Brian as levou para cima. Acho que a primeira coisa que fiz ao abrir a mala foi entregar a ele o pó de café, as castanhas de cajú e o chocolate que trouxe para eles.
Dentro da casa nem era preciso usar agasalho, o aquecedor mantinha a temperatura agradável para o corpo. Selecionei um dos meus gostosos vestidos de malha, feito pela Sebastiana, para usar como coringa. Nos pés uma botinha de flanela rosinha estampada, herdada da Carol. Importante sentir-se aconchegada ao entrar em casa uma vez que estava longe da família, do clima tropical e da língua materna.
Mantive 60% da roupa na mala grande e guardei o restante no armário construído com juta branca e sustentação de madeira. Coloquei a mala menor embaixo da cama junto com os sapatos. Era preciso ajeitar tudo minuciosamente para que coubesse e ainda sobrasse espaço para a circulação. No parapeito eram disponibilizados o desodorante, sabonete e o celular.
Por falar em celular, no dia seguinte à minha chegada, sábado de tarde após o almoço, fomos ao centro da cidade comprar um telefone móvel e uma mochila escolar. Procurei uma bota e um casaco impermeáveis e como não encontrei adquiri uma capa de chuva barata na cor verde musgo, bem ridícula, que me deixava envergonhada toda vez que chovia. Durante os sete meses que permaneci na Europa fiquei mesmo com minha botinha vermelha que doei antes de retornar ao Brasil tal estado ficou.
Fazer compras não é minha especialidade, isso até me deixa mal humorada, mas, eram itens de primeira necessidade para começar a vida em Dublin .